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terça-feira, 4 de março de 2014

Carnaval: alegria, gratidão e solidariedade.



            A festa do Carnaval aponta para tempos remotos, muitos séculos antes do surgimento e da hegemonia da religião cristã no ocidente. Estudiosos afirmam significados diversos para a palavra, mas um consenso diz que o Carnaval era a celebração da época de colheitas no hemisfério norte e, em tom de alegria e festejo, as pessoas saíam às ruas para comemorar a fartura e o êxito dessas colheitas, que garantiriam os suprimentos necessários para as demais estações dos anos. Num universo politeísta, a festa era um modo de agradecer aos deuses pelo bom fruto das sementes.
               Já na era cristã, o carnaval antecedia a Quaresma, período em que se abolia o uso da carne e práticas de jejum e interioridade (oração) eram incentivadas como modo de se viver a fé. De origens bíblicas, essas práticas, junto com a prática de doar esmolas aos mais empobrecidos formavam o tripé da espiritualidade quaresmal.
               Como resgatar o sentido dessas práticas no mundo contemporâneo? Hoje, falar de jejum e esmolas parece algo antiquado e mesmo equivocado – esmolas são mal vistas, quando consideradas como mero assistencialismo que não promove uma transformação autêntica de vida para os empobrecidos, que lutam por uma vida digna e condições materiais justas para viver (moradia, saúde, alimentação).
               Hoje, a cultura moderna valoriza práticas e ações que deem sentidos à vida, para além dos formalismos ou repetições rituais e mesmo doutrinais. Importam as ações que atendam ao desejo e necessidade de realização e felicidade, mesmo quando não sabemos ao certo o que sejam esses conceitos. A modernidade, e nela especialmente a juventude, é surpreendentemente aberta à solidariedade: os jovens gostam de participar de campanhas, voluntariado, ações de cunho social e promoção da dignidade humana. Há uma “sede” do infinito, do transcendente, enfim, de Deus, mesmo que não se vincule necessariamente esse desejo a uma vivência comunitária ou institucional (igreja). E somos marcados por uma cultura festiva, festeira: mesmo conscientes de nossas mazelas, festejamos e confraternizamos, partilhando e vivenciando momentos de humor e companheirismo, resgatando tradições, músicas e costumes de nossos antepassados (vide o ressurgimento e popularização das marchinhas de salão). Muitos viajam, tem um contato maior com a natureza, o campo, paisagens às quais nos distanciamos no cotidiano de nossas cidades.
               Que possamos, enfim, beber nas fontes originais dessa festa, resgatando a gratidão pelos bons frutos do nosso trabalho, reconhecendo nele não apenas a realização de projetos pessoais, mas também sua contribuição para a vida e o crescimento das pessoas; vivenciando uma espiritualidade que nos alimente a vida interior, ao mesmo tempo em que nos estimule à generosidade e à solidariedade com o próximo.
               E, como muitos dizem que no Brasil o ano só começa mesmo após o carnaval, que tenhamos todos um 2014 pleno de realizações, alegrias e generosidade, com o coração aberto para um ano que exigirá de nós muitos esforços, mas nos oferecerá, por contraparte, a oportunidade de criarmos coisas novas, belas e que preencham de sentido a nossa vida.  


Bom Carnaval a todos!
Muita alegria, descanso e lazer!

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