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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

ELJA 2015: escolhidos para algo mais



“Através de vocês, entra o futuro no mundo. Também a vocês,
eu peço para serem protagonistas desta mudança.
Peço-lhes para serem construtores do mundo,
trabalharem por um mundo melhor.
Queridos jovens, por favor,
não ‘olhem da sacada’ a vida, entrem nela!”.

Papa Francisco



O início do ano letivo coincidiu com o retorno de um pequeno grupo de estudantes do Colégio Santo Agostinho que participaram do ELJA: Encontro Latino-americano de Jovens Agostinianos, em Buenos Aires, Argentina, realizado durante a última semana de janeiro de 2015.

Esse encontro contou com a presença de jovens de 13 países – do Brasil, um grupo de 36 representantes vindos dos 3 Colégios Santo Agostinho (Contagem, Nova Lima, Belo Horizonte), Escola Carlos Vicuña, EPSA e Paróquia Nossa Senhora da Consolação e Correia, e do grupo de jovens Kairós, da Paróquia Santa Rita, de São José do Rio Preto - SP.

Todos estão de volta aos seus afazeres e compromissos cotidianos. Mas não voltaram os mesmos: esse “estar de volta” vem com a marca de um encontro que nos encheu de entusiasmo, sentimentos, parcerias, experiências. Ainda somos os mesmos, mas parafraseando o lema do ELJA 2015, sabemos que “fomos escolhidos para mais”. Esse “ser mais” cada um saberá discernir ao longo do ano, descobrindo dentro de si mesmo potencialidades e caminhos, forças e coragem para ir além – afinal, acreditamos que a vida está aí como um presente para ser saboreado em plenitude. Cuidar, pois, desse presente, com alegria, curiosidade, generosidade é o desafio que agora se lança na caminhada desses jovens!


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Funcionários da SIC participam de palestra com o educador César Nunes



O ano de 2015 dá seus primeiros passos. Para muitos, paira no ar a sensação de incertezas: o cenário político e econômico brasileiro se mostra instável; de certo modo, isso causa perplexidade, considerando-se que um amplo processo eleitoral há pouco se encerrou e atendeu o desejo da maioria da população votante – portanto seria plausível esperar que estivéssemos num momento mais leve e de otimismo. O cenário mundial também não se diferencia do que ora vivemos aqui: efeitos da crise econômica ainda se estendem pela Europa, as mudanças climáticas se agravam em todos os continentes, guerras e fundamentalismos se tornam mais exacerbados e virulentos na aurora do ano que mal se inicia... Momentos confusos exigem discernimento e lucidez; pausa e inspiração. Onde buscá-las? 

 Os funcionários, professores, dirigentes dos colégios, obras sociais e religiosas da SIC, mantenedora da rede educacional Santo Agostinho, estiveram reunidos, nessa primeira semana de fevereiro, com o educador Cesar Nunes, professor da Unicamp, para uma reflexão que se mostrou realmente inspiradora e instigante sobre os caminhos da educação brasileira e as possibilidades de transformação que se apresentam especificamente nessa área.

 Munido de grande erudição e saber, somados a uma comunicação sensível e bem humorada, César falou para a “inteligência e o coração” dos seus ouvintes. Lembrando, à luz do pensamento de Jean-Paul Sartre, que o ser humano é “aquilo que fizeram dele, somado àquilo que ele faz do que fizeram dele”, César Nunes conduziunos pela história da educação brasileira, com seus condicionamentos históricos, suas matrizes políticas, filosóficas, debilidades e contradições vindas daí. A educação brasileira responde, hoje, pelo que fizeram dela no passado. Conhecer seus percalços é fundamental: permite-nos tomá-la como uma tarefa ainda a ser efetivada, rever conceitos e atitudes, buscar novos horizontes e inspirações. Há muito o que fazer. Ela será aquilo que fizermos dela: crer em sua transformação, acolher e sustentar as mudanças que já ocorrem, suprimir práticas que já não condizem com o tempo presente, são gestos genuinamente revolucionários, pois permitem vir à luz algo novo, melhor! 

César Nunes foi discípulo e companheiro de trabalho de nomes fundamentais para a educação brasileira, tais como Paulo Freire, Rubem Alves, Demerval Saviani – verdadeiros faróis a iluminar os caminhos da história recente do pensamento pedagógico. César descobriu, em sua própria história de vida, as raízes do educador que ele se tornou, raízes que se fecundaram na leitura, interlocução e convivência com aqueles homens. Compartilhou com eles que o educar é, por si mesmo, um ato político: oferece instrumentos para que a pessoa se torne sujeito da sua própria história, consciente, atuante e decisivo na realidade em que está inserido. Educar constitui-se como ato de grandeza, tendo como finalidade auxiliar-nos a “tornar-nos pessoas” mais plenas, iniciando-nos no mundo da cultura, da consciência de si mesmo e da vida em sociedade, da aquisição de atitudes e valores que norteiam “aquilo que fizeram de nós e aquilo que faremos daquilo que fizeram de nós”! Seria liberdade a palavra que expressa melhor a finalidade do educar?

Ora, uma educação libertadora distingue entre o fundamental e o que é apenas circunstancial. Princípios e valores que a sustentam são permanentes: respeito, amor, comunidade, transcendência... Práticas e resultados, hábitos e métodos estão em constante mudança, pois se destinam a atualizar a educação para tempos igualmente em constantes transformações. Vivemos hoje sob o prisma de uma sociedade do consumo: nela, os saberes se destinam ao lucro, à eficiência e produtividade. Ela demanda um modelo de educação que prepare pessoas competitivas, adaptadas às exigências do mercado e que dominem as técnicas e tecnologias em vista de ocuparem postos nesse mesmo mercado, favorecendo a continuidade do próprio sistema de consumo. A educação libertadora considera a pessoa em sua inteireza. Portanto, educar não se restringe a acumular informações, responder avaliações, cumprir tarefas. Aprender a ser, a conviver, a pensar globalmente, a traduzir o aprendido numa prática efetiva: são seus pilares irrenunciáveis. Num horizonte mais amplo, mais do que habilitar tecnicamente as pessoas, preparando-as para determinados afazeres, a educação libertadora se identifica com o espírito humanista: seu desejo é proporcionar ao homem ser pleno em suas potencialidades, pois só na plenitude da humanidade conseguiremos articular sociedades plenamente capazes de acolher as pessoas em suas diversidades. Uma educação libertadora fala para o intelecto, tanto quanto fala para o afeto, a arte, o corpo, a convivência com o outro... dimensões da vida que não são alcançadas pelas avaliações tradicionais e que não compõem o fundamental na cultura tecnicista atual. 

De modo emblemático, César Nunes partilhou as memórias dos seus anos iniciais na escola. Lá, encontrou dois paradigmas educacionais, encarnados nas figuras da dona Cotinha e do seu Norberto, professores que marcaram sua vida. Em dona Cotinha, encontrou a educadora amável, capaz de empatia e afeto, que despertou e fortaleceu a estima própria de um aluno inseguro e estreante no mundo da escola. Nela, César pôde tomar consciência dos valores que circunscreviam o seu próprio mundo, advindos da tradição e cultura sertanejos, transformando-os numa verdadeira plataforma para expandir-se pelos horizontes que a vida iria lhe apresentar. Já com o professor Norberto, César conheceu uma escola de práticas rígidas, excludente, pautada pelos resultados e pela eficiência, uma escola que desperta medo e competição, que interdita a criatividade e enobrece a obediência. 

Claro que a realidade não é assim tão bem definida: há, em cada Cotinha, um pouco do professor Norberto; do mesmo modo, o professor Norberto também tem em si um pouco da dona Cotinha. Eles são retratos da condição humana que nos une: “Não consigo entender nem mesmo o que eu faço; pois não faço aquilo que eu quero, mas aquilo que mais detesto” (Rm 7, 15). Vivemos sob o signo da contradição. Contudo, segundo a tradição cristã, “Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres. Portanto, sejam firmes e não se submetam de novo ao jugo da escravidão” (Gal 5, 1). Há uma linha tênue entre pecado e graça, liberdade e escravidão, a lei e o amor; essa linha torna-se condição de possibilidade para irmos adiante, “esperar contra toda esperança”, e encontrarmos em nós mesmos e naqueles que nos antecederam caminhos novos para a nossa existência. Deslumbrar essa possibilidade, por meio das palavras de César Nunes, certamente tocou cada um de seus ouvintes. Tenhamos, pois, coragem e energia vital para ir além, munidos de tal esperança!

Papa Francisco escreve mensagem aos brasileiros por ocasião da Campanha da Fraternidade 2015


Queridos irmãos e irmãs do Brasil!

Aproxima-se a Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa: tempo de penitência, oração e caridade, tempo de renovar nossas vidas, identificando-nos com Jesus através da sua entrega generosa aos irmãos, sobretudo aos mais necessitados. Neste ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, inspirando-se nas palavras d’Ele “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45), propõe como tema de sua habitual Campanha “Fraternidade: Igreja e Sociedade”.
De fato a Igreja, enquanto “comunidade congregada por aqueles que, crendo, voltam o seu olhar a Jesus, autor da salvação e princípio da unidade” (Const. Dogmática Lumen gentium, 3), não pode ser indiferente às necessidades daqueles que estão ao seu redor, pois, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (Const. Pastoral Gaudium et spes, 1). Mas, o que fazer? Durante os quarenta dias em que Deus chama o seu povo à conversão, a Campanha da Fraternidade quer ajudar a aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a Sociedade – propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II – como serviço de edificação do Reino de Deus, no coração e na vida do povo brasileiro.
A contribuição da Igreja, no respeito pela laicidade do Estado (cfr. Idem, 76) e sem esquecer a autonomia das realidades terrenas (cfr. Idem, 36), encontra forma concreta na sua Doutrina Social, com a qual quer “assumir evangelicamente e a partir da perspectiva do Reino as tarefas prioritárias que contribuem para a dignificação do ser humano e a trabalhar junto com os demais cidadãos e instituições para o bem do ser humano” (Documento de Aparecida, 384). Isso não é uma tarefa exclusiva das instituições: cada um deve fazer a sua parte, começando pela minha casa, no meu trabalho, junto das pessoas com quem me relaciono. E de modo concreto, é preciso ajudar aqueles que são mais pobres e necessitados. Lembremo-nos que “cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade; isto supõe estar docilmente atentos, para ouvir o clamor do pobre e socorrê-lo” (Exort. Apost. Evangelii gaudium, 187), sobretudo sabendo acolher, «porque quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo – não ficamos mais pobres, mas enriquecemos” (Discurso na Comunidade de Varginha, 25/7/2013). Assim, examinemos a consciência sobre o compromisso concreto e efetivo de cada um na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e pacífica.
Queridos irmãos e irmãs, quando Jesus nos diz “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45), nos ensina aquilo que resume a identidade do cristão: amar servindo. Por isso, faço votos que o caminho quaresmal deste ano, à luz das propostas da Campanha da Fraternidade, predisponha os corações para a vida nova que Cristo nos oferece, e que a força transformadora que brota da sua Ressurreição alcance a todos em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural e fortaleça em cada coração sentimentos de fraternidade e de viva cooperação. A todos e a cada um, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, envio de todo coração a Bênção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar por mim.

Vaticano, 2 de fevereiro de 2015.

                                                                                                                                           Papa Francisco