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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Transformando relações por meio da arte cênica

“Aquele que transforma as palavras em verso transforma-se em poeta.
Aquele que transforma o barro em estátua transforma-se em escultor.
Ao transformar relações sociais e humanas em cena de teatro,
[o ator] transforma-se em cidadão”.
(Augusto Boal)

           
             Viver é relacionar-se: condição humana fundamental! Conviver com o outro é o campo em que forjamos o que somos: caráter, personalidade, valores, potencialidades e limites. A convivência é o lugar da realização humana: nela se estabelecem os conflitos e as tomadas de decisões. O modo como lidamos com isso lapida aquilo que somos.
            Tomar consciência dos conflitos e das decisões com as quais lidamos nos possibilita uma passagem: a de meros espectadores das tramas da vida para a de agentes transformadores da vida! Essa passagem torna-se autêntico ato político, libertador, educador!
            Mas como proporcionar essa passagem? Muitos pensadores, pedagogos, intelectuais e cidadãos dedicaram suas vidas a isso. Augusto Boal, artista e diretor teatral brasileiro propôs um método criado por ele chamado de “Teatro do oprimido”: por meio de esquetes e cenas teatrais, ajudar as pessoas a se reconhecerem nas situações vividas e refletir a respeito, por meio do diálogo e da troca de ideias. Essa reflexão ajuda a florescer a consciência de que podemos ser “agentes de transformação”, e que a vida não “tem” que seguir um script determinado, e que há espaços para mudanças e outras formas de lidar com os conflitos.

            Essa experiência foi vivenciada pela turma do 9º ano D (na quarta-feira, dia 17/09), a partir de uma ótica muito específica: a do bullying como forma de relação opressora no meio escolar. Organizados em três grupos, os alunos prepararam cenas em que o fenômeno do bullying se apresenta como elemento conflituoso nas relações dos jovens estudantes. Encenar tais situações proporcionou algumas reflexões e sentimentos interessantes, manifestados pelos alunos. Primeiro: o desconforto em reconhecer momentos em que uma pessoa é diminuída em sua autoestima por meio de zombarias ou rótulos desrespeitosos. Depois, a consciência de que é preciso romper com os elos e relações repressoras, proporcionando espaços de liberdade de expressão – romper com os silêncios, enfim. E, sobretudo, entender que as relações se constroem e se refazem a cada dia: mesmo quem é alvo de bullying pode e deve reverter essa condição, por meio do “encorajamento”, iniciativa e diálogo no espaço da convivência escolar.
            Esse trabalho é um ponto de partida para os alunos amadurecerem a consciência de que todos são cidadãos no âmbito desse espaço e, portanto, merecedores de respeito e consideração. Dar vazão aos sentimentos de quem é alvo ou quem pratica o bullying é uma experiência surpreendente: florescem atitudes de solidariedade dos outros colegas, que comungam de ideais e atitudes de respeito e senso de acolhida e de diálogo entre eles. Importante também é evitar o revide ou julgamento precipitado da parte de quem causa a opressão: ouvi-los em suas inquietações e experiências é muito importante, mais até que simplesmente punir ou reprimir – criam-se assim condições para todos amadurecerem como sujeitos autônomos e responsáveis na escola e na sociedade em que vivem.  





 

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