O estudante Vitor Galdino, do 9° A, escreveu o belo texto a seguir, inspirado em sua experiência pessoal e na aula do Ensino Religioso, onde os alunos refletiram sobre o modo como aproveitamos o tempo e o significado que damos para a vida. Vale a pena ler!
Quando
a professora nos pediu para lembrarmos a nossa vida, já tinha percebido o quão
a tarefa ia ser complicada, só não tinha noção de que não ia lembrar quase
nada. Lembrei-me muito vagamente da minha infância, apesar de ser uma época tão
boa e tão simples da nossa vida – quando uma pequeníssima coisa, como uma
formiga traçando seu caminho, poderia ser tão fantástica e interessante,
diferente de hoje, que é simplesmente um “nada”. A ingenuidade e o carinho com
a família e os amigos também foi algo muito marcante. E o que mais?
Foi quando me toquei que, sem
percebermos, deletamos memórias da nossa própria vida. Mas, por quê? Fiquei
tentando chegar a uma resposta e cheguei a inúmeras.
A sociedade começa a exigir que você
cresça, tanto em casa como em outros ambientes, tais como a escola. Pouco a
pouco vamos esquecendo a tal simplicidade nas coisas; é uma mudança drástica e
surpreendente.
A sociedade também influencia em
coisas como: “Ah, isso não é coisa da sua idade, é coisa de criança” –
principalmente no que se refere aos amigos.
Acho que também deletei algumas
coisas porque, querendo ou não, tudo vai virando uma questão de rotina – é
quando as mudanças da pré-adolescência surgem. O dia vai se tornando cada vez
mais rotineiro e “chato”.
É então que começamos a “fechar os
olhos” para tanta coisa que devíamos notar, tantas coisas boas, e isso só
aumenta a impressão de que não há tempo, que tudo é monótono e chato. Mas será
que não há tempo ou nós não soubemos organizá-lo?
“O tempo passa, não volta mais”. A
gente passa a “correr” tanto que não nos damos conta disso. A vida está passando
e deveríamos viver intensamente cada dia. Para isso, não precisa ir muito longe
e viajar para outros lugares extraordinários, basta prestar atenção nas simples
coisas que deixamos passar.
Quando a professora disse que “50% da
nossa vida gastamos pensando no que queríamos fazer”, fiquei surpreso, mas
realmente é fato.
Tem também a questão da vergonha.
Antes, na infância, fazíamos tudo sem preocupar
com o que o outro pensaria a respeito. Lembro muito bem que eu e minhas primas
ensaiávamos músicas para depois apresentarmos, fingindo que éramos famosos, e
isso nos fazia bem. E agora, temos vergonha de fazer aquilo, de falar isso, de
agir daquela forma... Começamos a pensar muito se o outro vai achar bonito,
ridículo, infantil, legal... Isso não é saudável, abaixa nossa autoestima e
prevalece até hoje. A pessoa que consegue pensar “se está bom e bonito pra mim,
não importa o que pensem” tem que ser perfeita para levar esse princípio
adiante. Como ninguém é perfeito, todos nós nos preocupamos com isso.
São tantas respostas que poderia até
fazer um livro. Na verdade, quando abrirmos os olhos e percebermos que o tempo
passou, pode ser muito tarde.
Meu conselho a quem ainda é criança é que não
deixe tudo isso se perder. Temos que crescer, amadurecer sim, mas não a ponto de
deixarmos coisas incríveis passarem.
Às vezes fico mesmo me questionando
qual é o sentido da vida. Aliás, você está num corpo que Deus lhe deu, um corpo
que tem emoções, sentimentos e seu tempo. Grosso modo, estamos de passagem na
Terra. E, como uma linha do tempo, um segmento, um traço, tem início e fim.
Muitas pessoas não gostam de falar disso, mas é a pura e indiscutível verdade.
Nada é para sempre. Nem mesmo o que aprendemos, que pode ser mudado (o
conhecimento) no futuro. Se você não aproveita ao máximo esse tempo, ele passa
a ser curto demais e começamos a pensar: “nossa, como o tempo voa”. Ele só voa
porque não temos a visão de futuro, que meu pai tanto diz.
Pense: o que você quer daqui a três,
dez, trinta anos? Casa, carro, família... Mas será que, quando pensar no seu
passado, ele terá valido a pena?
Nessas férias, tive uma experiência
que não desejo para ninguém. Fui parar em alto-mar, de repente, com uma
pranchinha em uma profundidade de, sei lá, 50, 60metros. Eu pedi a Deus que me
deixasse aqui, afinal, não tinha cumprido a minha missão, ainda. E vi que não
soube aproveitar o passado. Quer dizer, sim, aproveitei ao máximo a minha
infância, mas senti que ainda não tinha feito tudo “valer a pena”. Foi um
grande baque para mim. Graças a Deus, dois homens com um surfista conseguiram
me salvar. Arriscaram suas vidas por um estranho, sendo que não ia fazer a
mínima diferença para eles. Eu acho que isso é valer a pena, você ver tudo à sua volta e pensar no outro. Peço a
Deus, todos os dias, que recompense esses homens.
Acho que, se essa reflexão fosse
feita antes desse terrível acontecimento, eu não teria feito tudo isso.
Sabe o que estava pensando nesses
dias? Por que eu, com 13 anos, não me lembro muito dos meus 5 ou 6 anos (ou dos
9, 10 anos) e meus avós, com 60, 70 anos, se lembram de tantos detalhes? Taí
algo que não cheguei a uma ideia concreta, quem sabe talvez mais tarde eu tenha
a resposta?
A hipótese convincente a que cheguei foi que eles não se prendiam às coisas materiais,
como fazemos hoje; o que importava eram os valores. Hoje, ficamos muito
preocupados em estar conectados à Internet, a gastar horas e horas em frente ao
computador, a postar sua vida no Facebook, que esquecemos de viver realmente. Do que adianta ter milhares
de amigos virtuais, uma porção de seguidores, fotos postadas, se você não tem
consciência da vida real? Consciência
de trocar a vida real e próxima por um mundo virtual, surreal? De que você está
perdendo a sua vida social?
Não estou desvalorizando a Internet,
ela é muito boa, legal, útil, mas deve ser usada com moderação.
Tenho um colega que não é preso a
nada disso. O máximo que tem é MSN e só usa raramente a Internet para a escola.
Sim, ele é muito mais feliz do que outras pessoas que pensam que são.
Tantas pessoas se cortam, se
suicidam e ficam completamente abaladas e depressivas por motivos diversos.
Imagine se você fosse um portador de câncer, de AIDS, e tivesse o seu tempo
contado...
Essas pessoas eram pra ser tristes,
sem nenhuma perspectiva de vida. Mas, pelo contrário: elas não desistem de
lutar e de fazer a vida valer a pena.
A música “O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”... começa a
tocar em minha mente, mesmo não sabendo o título. “Queria ter me importado menos com problemas pequenos, ter visto o sol
nascer. Queria ter trabalhado menos e até errado menos”... Está tudo fora
de ordem, mas essa música mostra claramente que:
“A
felicidade não está fora de nós e não tão longe. Ela é, antes de tudo, um
estado de espírito, uma coletânea de lembranças e sentimentos, uma maneira de
ver a vida e não um determinado momento. Ser feliz é reconhecer que vale a pena
viver, apesar de todos os desafios”. “Devemos ver a beleza das coisas. Sorrir
para o céu e o sol. Falar ‘eu te amo’ para todos”. (São trechos de autores desconhecidos e algumas
adaptações minhas).